Meus avós eram imigrantes da Irlanda - pescadores que se estabeleceram numa pequena ilha no Lago Michigan, Estados Unidos. Ali, meus pais me criaram numa boa casa, onde eu era o mais novo dos onze filhos. Embora fôssemos à igreja, não tínhamos uma Bíblia em nossa casa. Nem minha mãe nem meu pai sabiam ler ou escrever, portanto, eles não poderiam fazer muita coisa com uma Bíblia, se tivéssemos uma.
A vida era difícil. Lembro-me vendo minha mãe olhando através da água, sua mente muito distante. Certa vez, eu lhe perguntei: “O que acontecerá quando descermos naquele velho caixão?” Sendo um coroinha, muitas vezes estive ao lado de um túmulo e segurava o aspersório ou a água benta, enquanto o padre benzia o caixão antes de ser baixado à sepultura. Eu vi muitos pescadores ou fazendeiros que haviam perdido suas esposas, parados ali e chorando, sem nenhuma esperança no mundo. Algumas vezes, eles tentavam pular dentro da sepultura, e outros tinham que segurá-los para que não o fizessem. Qual o significado da vida? Minha mãe não tinha nenhuma resposta para me dar.
Quando eu estava crescendo, fui para uma escola religiosa. Lembro-me da primeira pergunta do catecismo que havia aprendido: “Por que Deus me criou?” A resposta era: “Deus me criou para que eu O conhecesse, para amá-Lo, para serví-Lo e para estar feliz com Ele neste mundo, e para estar com Ele para todo o sempre.” Bem, nós tentávamos servir a Deus e ser felizes, mas não sabíamos como. Estávamos bem envolvidos em fazer caridades e seguir certas tradições, mas aquilo nunca nos trouxe paz.
Quando eu tinha treze anos de idade, soube que meu irmão havia morrido à bordo de um navio da Guarda Costeira. Ele havia saído do refeitório e ido até a cabine de comando. Ali ele acendeu um cigarro e caiu morto. Eu nunca mais fui o mesmo depois daquele dia. Percebi, então, que pessoas poderiam morrer ainda sendo jovens.
Um dia, quando eu estava na oitava série, depois de ter me envolvido em problemas, um professor me disse: “Você não está fazendo nada além de causar problemas e confusões. Seria melhor para todos nós se você fosse embora.” Então, fui para o mar e, pelos próximos onze anos, naveguei num navio de carga ao redor do mundo. Lembro-me de uma certa noite, quando estava no observatório do navio e contemplando as estrelas. Eu perguntava a mim mesmo: “Existe um Deus? Existe um jeito de alcançá-Lo se Ele estiver ali?” Lágrimas escorriam dos meus olhos, mas eu não conseguia encontrar o que estava precisando. Algo em meu coração clamava pela verdade, mas eu não sabia como alcançar a Deus. Eu só sabia que tinha medo de morrer.
Para mim, era lógico que se Deus fosse real, alguém deveria saber algo a respeito dEle. Algumas vezes, mar adentro, ia ao refeitório tomar um café e ao entrar ali, eu falava bem alto pra que todos pudessem ouvir: “Deus não existe. Vocês sabem disso.” Então, ficava ali, tomando o meu café e ouvindo o que as pessoas diziam a respeito do meu comentário. Entretanto, eles faziam apenas comentários vagos, e concluí que eles também não sabiam nada além do que eu mesmo sabia.
Durante os meus anos como marinheiro, frequentemente ia à lugares perigosos nas grandes cidades ao redor do mundo. Sempre era preso por estar embriagado. Quando tinha dezenove anos de idade, passei pelo meu primeiro tratamento de alcoolismo. Antes de receber alta, o médico me levou para conhecer o departamento de alcoolismo; ele me mostrou as diversas pessoas que constantemente retornavam àquela clínica. Ele me disse que não havia cura para eles. Eu ainda era jovem, mas já havia sido diagnosticado como um alcoólatra crônico. Tentei sair daquele tipo de vida, mas eu não tinha forças para tal.
Finalmente, minhas vagueações me levaram à Eureka, California, Estados Unidos. Ali, deitei na orla da praia no início da Rua G, com uma garrafa de bebida como meu travesseiro. Por volta da meia-noite, a polícia apareceu e fui preso novamente por estar embriagado. Na prisão, ouvi algo que nunca mais esqueci. Um grupo de pessoas da Igreja da Fé Apostólica veio para fazer uma reunião. O pastor disse algumas palavras no final da reunião que me deram esperança. Ele sabia que estava falando para um grupo de lenhadores bêbados. Era a temporada das chuvas e eles não podiam ir para a floresta. Eu estava ali, no meio deles. O pastor disse: “Vocês não precisam estar na igreja para orar. Não faz a menor diferença onde vocês estão – na operação das máquinas ou ao lado de um tronco velho no meio da floresta - as condições são as mesmas. Se vocês forem sinceros com o Senhor, Ele os ouvirá. Se não forem sinceros, vocês não conseguirão nada.” Eu gostei daquilo. Sempre gostei de conversas diretas. Eu não fui salvo naquele dia, mas algo foi plantado no meu coração.
Logo que fui solto da cadeia, naveguei para a América do Sul num navio norueguês. Eu ainda não tinha completado trinta anos de idade, mas os meus nervos estavam arruinados. Apenas o clique do giroscópio, quando eu tentava manter o navio em seu curso, durante uma vigília noturna, quase me levava à loucura. Eu guardava uma garrafa de bebida em meu bolso, para me manter firme e evitar que eu não pulasse do navio. Eu também sofria de uma doença sanguínea que havia adquirido na África do Sul. Depois de passar por três hospitais navais, eu ainda não havia melhorado.
Mas, aqui está o apogeu da minha história: Eu voltei para San Francisco, e em um hotel de baixa categoria, na Rua Market com a Embarcadero, eu me levantei da cama e orei. Senti que iria morrer, então, quis tentar mais uma vez verificar se existia um Deus e se Ele me escutaria. Às três horas da manhã, eu orei a oração do Pai Nosso. Aquilo era tudo o que eu sabia. Então, eu orei: “Deus, faça por mim o que o Senhor fez por aquelas pessoas que ouvi testemunharem em Eureka.” E, em um piscar de olhos, o poder de Deus veio àquele quarto de hotel. Todo o Céu se manifestou e Deus me libertou! Eu não sabia o que significava “nascer de novo”, mas o Senhor falou ao meu coração: “Seu corpo, corroido pela enfermidade, está limpo agora. Seus pecados estão perdoados. Vá adiante e faça o que é correto ou você será condenado por toda a eternidade.” Um companheiro do outro lado do corredor gritou: “Finalmente ele ficou louco por causa do vinho.” Não, eu não havia enlouquecido. Finalmente, eu havia me conectado com o Deus que tanto ansiava em conhecer.
No dia seguinte, eu saí daquele hotel um homem liberto do pecado, uma nova criatura em Cristo Jesus. Alguns dos meus antigos parceiros de gangue me chamaram: “Venha tomar um gole para abrir os olhos.” Eu respondi: “Eu já abri os meus olhos. Acabou-se a minha antiga vida.”
Eu não sabia nada à respeito de restituição, mas Deus me guiou e me ajudou a endireitar o meu passado. Eu não tinha uma ocupação e nem mesmo uma outra muda de roupas. Eu não tinha nada, mas eu consegui um emprego numa construtora de ferrovias e ali fiquei até que Deus me direcionou de volta à Eureka.
Depois que retornei à Eureka, trabalhei como um estivador, dirigindo guindastes para os navios que transportavam madeira. Eu era solteiro, sem nenhuma família, e me hospedava num antigo hotel para trabalhadores. Eu não sabia a que igreja frequentar, mas uma coisa eu sabia: orações tinham me salvado, e se eu orasse, Deus cuidaria de mim. Numa noite, ao lado da minha cama, naquele hotel, eu orei e orei. Então, uma coisa começou a acontecer. Eu senti algo em meu ouvido e, ao fundo, ouvi uma canção: “Quando no Céu meu nome for chamado, lá estarei.” Parecia como se um aparelho de sucção houvesse sido tirado do meu coração. Havia vitória e regozijo. Algum tempo depois, quando estava entre as pessoas da Igreja da Fé Apostólica, alguém me disse: “Deus te santificou.” Naquela hora, eu não sabia como chamar aquilo, mas Deus havia feito algo em minha vida, algo para me manter junto a Ele.
Mesmo que eu me lembrasse das pessoas da Apostólica da Fé, anos antes, quando eles fizeram a reunião na cadeia, eu não sabia a que igreja eles pertenciam. Um dia, na orla marítima, encontrei um homem que estivera na cadeia comigo, antes de eu ter sido salvo. Ele me pediu um cigarro e eu disse: “Eu não fumo mais. Esse vício me foi tirado.” Ele perguntou o que havia acontecido e eu respondi que havia orado. Ele disse: “Eu entendo o que você quer dizer. Meu pai é pastor em uma igreja na Rua F. Você gostaria de ir lá?” Eu fui, e assim que ouvi o primeiro testemunho, eu sabia que estava onde eu iria ficar.
Ali, fiquei sabendo à respeito do batismo do Espírito Santo, e comecei a buscar por aquela experiência. De alguma forma, parecia que eu não podia encontrar. Anos se passaram, e eu estava quase desistindo. Naquele tempo eu já estava casado, e disse a minha esposa que eu estava a ponto de pegar os meus documentos de marinheiro e voltar ao mar. Havia um reboque velho perto da nossa casa aonde eu fui orar. Naquela noite, persisti, ficando ali, até que finalmente minha esposa veio. Quando ela chegou, ela me ouviu falando em uma outra língua. Deus havia me ajudado a conectar-me com Ele, e Ele havia me batizado com o Espírito Santo.
Anos se passaram desde que Deus me salvou, e Ele tem me mantido. Hoje a paz de Deus reina em meu coração. Sou muito grato pela religião dos velhos tempos.
George Martin foi membro da Igreja da Fé Apostólica em Eureka, California até o seu falecimento em 2007.