O livro de Jó examina o problema do sofrimento humano. É o relato de um homem íntegro, Jó, que foi o instrumento nesta lição, dada pelo Senhor. Em Jó 1:1 lemos uma descrição de Jó: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este era homem sincero, reto e temente a Deus, e desviava-se do mal.” Vale ressaltar que todas as quatro características atribuídas a Jó, neste verso, eram favoráveis.
Jó era um homem de família; ele teve sete filhos e três filhas. Ele também era um indivíduo rico; o versículo 3 detalha suas posses: “E era o seu gado sete mil ovelhas, e três mil camelos, e quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas; era também muitíssima a gente ao seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do oriente.”
Satanás questionou os motivos de Jó para servir a Deus, afirmando que este homem reto só o servia por causa dos benefícios que recebeu. Então, Deus permitiu que Satanás provasse a fidelidade de Jó. Ele retirou a proteção ao redor de Jó, e Satanás tomou suas posses, sua família e, finalmente, sua saúde. No entanto, o inimigo não pôde tocar o bem mais valioso de Jó: sua fé e confiança em Deus.
Junto com a perda de tudo o que ele considerava mais valioso em sua vida, os sofrimentos de Jó incluíam ter que suportar as acusações de seus amigos (usando o termo “amigos” de forma bastante superficial). Depois de tudo o que ele enfrentou, esses homens simplesmente se sentaram e o encararam por uma semana, antes de dizerem algo. Na verdade, poderia ter sido mais fácil para Jó se eles nunca tivessem aberto a boca. Quando eles falaram, pareciam jogar conselhos atrás de conselhos, mas eram exemplos clássicos daqueles que pronunciam palavras sem conhecimento (ver Jó 38:2). Eles revelaram claramente as limitações da sabedoria humana.
Jó questionou o motivo do seu sofrimento, enquanto ele suportou esses terríveis acontecimentos. Por que Deus permitiu isso? Qual foi a razão pela qual ele estava passando por isso? Ele não entendia o que estava acontecendo. Jó perguntou a si mesmo, aos amigos que o desafiaram e a Deus. Curiosamente, Deus nunca respondeu suas perguntas em específico. O entendimento que Jó finalmente recebeu foi que Deus é Deus. Ele não deve uma explicação para o que Ele permite ou para o que Ele faz. Ele é soberano!
O Senhor respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo: “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?” (Jó 38:2). Jó havia protestado que, se ele tivesse a oportunidade de se apresentar diante da presença de Deus e implorar o seu caso, ele encheria sua boca com argumentos. No entanto, quando Deus falou, Jó tinha pouco a dizer. Ele respondeu com as mesmas palavras que Deus havia usado para ele: “Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido. Quem é aquele, dizes tu, que sem conhecimento encobre o conselho?” (Jó 42:2-3). Na verdade, ele estava dizendo: “Quem sou eu para duvidar de Deus ou para interrogá-lo? Quem sou eu para buscar respostas aos mistérios que Deus escolhe não revelar?” Continuando no versículo 3, lemos seu reconhecimento: “Por isso falei do que não entendia; cousas que para mim eram maravihosíssimas, e que eu não comprendia.” Não havia outra resposta além do fato de que Deus era soberano e não precisava se justificar, e Jó chegou a essa conclusão. Ele concluiu que não precisava de uma resposta se Deus escolheu não revelá-la.
No final da provação, a prosperidade de Jó e a sua posição na comunidade foram restauradas, e ele acabou vivendo mais cento e quarenta anos. Em Jó 42:17 lemos: “Então morreu Jó, velho e farto de dias.” Jó morreu um homem feliz! Ele estava na vontade de Deus, assim como ele esteve durante o período de tempo que sofreu.
Jó não sabia o que estava acontecendo no domínio espiritual durante o seu tempo de provação. Ele não sabia que Satanás o acusara na presença de Deus, insinuando que a sua lealdade a Deus poderia ser comprada. Ele não sabia que Deus havia concedido permissão para que a cobertura protetora em torno dele fosse retirada para que sua prosperidade desaparecesse. Ele não sabia quando Satanás voltou a Deus pela segunda vez e declarou que se a saúde de Jó fosse tirada ele blasfemaria de Deus em Sua face. Jó não tinha conhecimento do fato que, para provar que Satanás estava errado, Deus deu permissão para Satanás afligir Jó em seu corpo físico. Tudo o que Jó sabia era que ele estava sofrendo de todos os modos imagináveis, e que os seus amigos insistiam que o pecado oculto era o motivo das perdas que experimentara. Ele não sabia que ele estava envolvido num conflito espiritual.
O fato é que todos estamos envolvidos em conflitos espirituais. Como Jó, não sabemos o que está acontecendo nos bastidores. O que sabemos é que estamos envolvidos em guerras espirituais com o inimigo de nossas almas. Nós também sabemos o que Jó aprendeu—que Deus é soberano e que não nos deve nenhuma explicação para o que Ele envia no nosso caminho.
Ao lutar contra nossas batalhas espirituais, podemos aprender algumas lições de Jó. Talvez a verdade mais importante a ser compreendida é que Jó era o mesmo homem antes de perder tudo e durante a adversidade. O caráter desse homem foi revelado naqueles tempos de provação. Ele era um homem abençoado—ele era próspero; ele tinha família ao redor dele que o respeitava, e outros na sociedade também procuraram seu conselho. No entanto, não foi até quando ele perdeu todos os benefícios externos que o seu verdadeiro caráter foi revelado.
Existem sete atributos na vida de Jó que podem nos ensinar e temos como padrão para nossas vidas.
Jó era um homem de integridade
O primeiro atributo que podemos observar sobre Jó é que ele era um homem de integridade. Essa integridade, descrita em Jó 1:1, tinha quatro aspectos: Jó era “sincero, reto e temente a Deus, e desviava-se do mal”. A palavra sincero é a tradução de uma palavra hebraica que significa “gentil” ou “querido”. Talvez alguns homens na sociedade de hoje não desejam ser caracterizados dessa maneira. No entanto, a marca da verdadeira masculinidade não é a capacidade de vociferar ordens como prova da autoridade de alguém. Na verdade, a tentativa de dominar e controlar podem ser marcas de quem não possui virilidade. Um homem perfeito (sincero), neste sentido, pode ser um que rotularíamos “um cavalheiro”.
Jó não era apenas “sincero”, mas ele era também “reto”. Isso oferece uma imagem de um caminho direto e uniforme, ao invés de um caminho torto e desigual. Quando olhamos para trás, em nossas vidas, queremos ver um registro de princípio inabalável. Há valor nisso! Nosso caminho não é construído unicamente nos domingos quando estamos na igreja. Também é construído em casa, no local de trabalho e na escola, diariamente. Queremos um histórico direto e uniforme, onde quer que caminhemos. Isto é o que significa ser “reto”.
Jó temia a Deus; ele era reverente para com o Senhor e sério ao apresentar-se na presença do Todo-Poderoso. Devemos ter a mesma atitude e abordagem ao Senhor. Jó evitou o mal—ele se absteve até mesmo da aparência de uma transgressão. Como Jó, não devemos permitir nada em nossas vidas que comprometa nossa integridade. A tentação vem para todos: todos teremos oportunidades para provar o nosso caráter, mas queremos nos afastar de tudo que possa comprometer nosso testemunho. A integridade é quem somos quando ninguém está por perto. Queremos ser pessoas de fortes princípios morais, quer outros possam ver o que estamos fazendo ou não.
Jó era um homem de oração
Jó era um homem de oração; ele carregava um fardo pela sua família. Na descrição desse homem reto, relata-se que “e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles” (Jó 1:5). Sua família sabia que ele orava; eles o viram orar. Outros nem sempre sabem tudo o que enfrentamos na vida, mas aprendem muito sobre nós quando nos veem enfrentando o furor da batalha—quando as coisas parecem indo terrivelmente erradas. Jó era um homem de oração, e queremos que esse seja nosso testemunho também. Nossas vidas de oração constante podem ser um exemplo para os outros.
Ao longo dos anos, tem sido interessante assistir nossos filhos, e agora nossos netos, imitarem o comportamento dos adultos à sua volta. Quando nosso filho era mais novo, eu lhe dei um cortador de grama de brinquedo. Quando eu cortava o nosso gramado, ele vinha atrás de mim, empurrando seu cortador de brinquedo. Quando eu lavava o carro, ele queria um pano para ajudar a lavá-lo também, mesmo quando ele era tão pequeno que mal podia andar. Recentemente, estávamos na cidade de Roseburg, Oregon, Estados Unidos, comemorando os noventa anos do meu pai. Eu vi meu neto de dois anos, Moses, indo para frente e para trás, através do gramado, com um pequeno cortador de grama de brinquedo. Ele estava inconsciente do fato de que muitas das sessenta pessoas presentes o estavam observando! Ele estava imitando o comportamento que ele tinha visto. Onde quer que você esteja na vida, você está definindo um exemplo de comportamento, e outros estão percebendo. Que nosso exemplo inclua oração constante.
Jó era consistente
A vida de Jó era de firmeza e consistência. Em muitos aspectos, ele era previsível. De acordo com o capítulo 29, ele tinha sido um magistrado e um juiz respeitado na cidade, e estava em grande consideração por suas boas ações ao servir o povo. Ele ajudou a administrar a comunidade e resolver as disputas, e até os mais idosos e nobres o honravam. Em seu tempo de provação, embora seus amigos assumissem que seu sofrimento deveria ter sido causado por algum grande pecado, eles não podiam apontar para uma única instância em que o comportamento de Jó pudesse ser criticado. Ele era consistente, leal e confiável. Ele poderia dizer com razão: “Nas suas pisadas os meus pés se afirmaram; guardei o seu caminho, e não me desviei dele” (Jó 23:11).
Jó tinha esperança
Embora Jó estivesse desesperado com as provações que tinham chegado ao seu caminho, ele tinha esperança. Podemos indagar como poderia existir esperança diante do desespero, mas ela estava presente, no caso de Jó. Apesar do sofrimento, ele sabia que haveria um dia melhor. Ele afirmou: “Eu sei que o meu Redentor vive” (Jó 19:25), e acreditou que ainda na carne ele veria a Deus. Tudo em sua vida parecia ter se fragmentado ao redor dele, mas sua fé e confiança em Deus ainda permaneciam. Em Jó 23:10 lemos: “Mas ele sabe o meu caminho; prove-me, e sairei como o ouro.” Ele não sabia se aquele “sairei como o ouro” seria nesta vida ou na vida futura, mas ele creu com firmeza na esperança de Deus.
Jó confiou em Deus
Jó confiava em Deus, embora ele não pudesse sentir Sua presença. Em Jó 23:8-9 lemos: “Eis que se me adianto, ali não está; se torno para trás, não o percebo. Se opera à mão esquerda, não o vejo; encobre-se à mão direita, e não o diviso.” Em seu ponto mais baixo, ele exclamou: “Ah! se eu soubesse que o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal. Com boa ordem exporia ante ele a minha causa, e a minha boca encheria de argumentos. Saberia as palavras com que ele me responderia e entenderia o que me dissesse” (Jó 23:3-5). Embora Jó não pudesse encontrar Deus, ele acreditava que Deus estava lá e que Ele tinha as respostas para o que ele estava enfrentando.
Deus confiava em Jó
Deus confiava em Jó. Uma coisa é dizer: “Eu vou confiar em Deus”, mas Deus pode confiar em nós? Deus apresentou Jó diante de Satanás como um exemplo de fidelidade. Nós lemos isso quando Satanás apareceu diante dEle, o Senhor perguntou: “Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a Deus, e desviando-se do mal” (Jó 1:8). O próprio Deus poderia dizer de Jó que ele era Seu servo. Depois que Satanás foi autorizado a tirar os filhos de Jó e suas riquezas, Deus repetiu as mesmas palavras pela segunda vez, e acrescentou que, apesar dos problemas que haviam acontecido com Jó, “e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa” (Jó 2:3). Deus sabia que Ele poderia confiar em Jó para triunfar nesta provação, então Ele não hesitou em permitir que Satanás fizesse o seu pior.
Jó foi paciente no sofrimento
Finalmente, vemos que Jó enfrentou com paciência o seu sofrimento. No Novo Testamento, sua paciência é mencionada pelo Apóstolo Tiago. Nós lemos: “Meus irmãos, tomai por exemplo de aflição e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor. Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso” (Tiago 5:10-11). Certamente, nós não aspiramos a sofrer o que Jó sofreu—preferimos aprender ao observar a paciência de Jó do que ter a chance de praticá-la! Tiago disse que, na paciência de Jó, vemos “o fim que o Senhor lhe deu”, ou seja, vemos o resultado. Aprendemos com Jó que vale a pena ser paciente!
Em Eclesiastes 7:8, lemos as palavras de Salomão: “Melhor é o fim das cousas do que o princípio delas: melhor é o longânimo do que o altivo de coração.” Embora possamos saber onde um problema começou, mas, nem sempre, sabemos onde vai terminar. No entanto, sabemos que o final será melhor do que o começo! A conclusão é que o fim é o Céu. Só o fato de chegarmos no Céu já recompensará a jornada difícil.
Tiago disse que o Senhor “é muito misericordioso e piedoso”. Deus se importa com as situações difíceis que enfrentamos. Em Hebreus 4:15 lemos: “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas.” Temos um advogado que intercede por nós, até mesmo agora. Vemos como Deus abençoou e prosperou Jó no final. E mesmo que não vejamos um resultado positivo para nossas provações nesta vida, veremos isso na vida por vir.
Seguindo o exemplo de Jó, comece de joelhos. É aí que começa a viver uma vida de integridade e fidelidade, e é assim que continuará. Aqueles que persistem em confiar em Deus através dos lugares difíceis da vida, um dia serão recompensados!
O Rev. Darrel Lee é o Superintendente Geral da obra da Igreja da Fé Apostólica, e é o pastor da igreja sede em Portland, Oregon, EUA.